Conhecer o passado para plantar o futuro

Todos sabemos que conhecer a história do Movimento de Cursilhos de Cristandade é, para seus integrantes, um imperativo sem o qual não seria possível reconhecermos nossa própria identidade, atualizá-la e mantê-la, além de, fazendo memória do passado, viver intensamente o presente e enfrentar com confiança o futuro.

A história do MCC, entretanto, não deve ser concebida como uma série de datas, acontecimentos e pessoas, e sim como a explicação das ideias, atitudes, convicções e opções pastorais que, num dado momento, deram origem ao Movimento. Isso nos permitirá compreender a essência e a finalidade do MCC. Por isso precisamos conhecer as circunstâncias históricas que, revelando certos problemas e a necessidade de solucioná-los, originaram certas opções e certos conceitos básicos.

É preciso levar em conta a situação que a Espanha vivia na década de 40 para entender os antecedentes do MCC. Em termos políticos e econômicos, a sociedade espanhola tentava, em meio a inseguranças e incertezas, reconstruir-se depois de três anos de guerra civil. No que dizia respeito à religião, o cristianismo era, sim, a religião oficial, mas a sociedade era só ‘aparentemente’ e não ‘autenticamente’ cristã.

A Ação Católica, amplamente difundida no país, queria promover maior autenticidade e implicar os leigos na vida da Igreja. Com esse objetivo, a seção de jovens, a Juventude da Ação Católica Espanhola (JACE), retomou um projeto anterior à guerra civil: realizar uma grande peregrinação de jovens a Santiago de Compostela, dali a alguns anos, isto é, em 1948.

O Conselho Diocesano dos Jovens da Ação Católica de Maiorca era muito ativo e participou intensamente das atividades de preparação dessa peregrinação, principalmente através dos chamados “Cursillos de Adelantados” e “Cursillos de Jefes de Peregrinos”. Havia lá um grupo de jovens bem formados, com atitudes e critérios comuns, com notável inquietude apostólica e uma clara insatisfação diante das opções pastorais vigentes.

Não resta dúvidas de que os Cursilhos foram fruto da inspiração do Espírito Santo, acolhida e compartilhada por um grupo de pessoas entre as quais se destacaram Eduardo Bonnín, um leigo; alguns sacerdotes como Mons. Sebastián Gayá; e o então bispo de Maiorca, Dom Juan Hervás. Esse grupo desenvolveu o que hoje podemos chamar de ‘uma nova forma de evangelizar’ (principalmente os afastados de Deus e da Igreja), que posteriormente se denominou Cursilhos de Cristandade.

Entre os anos de 1944 e 1949, foi feito um intenso trabalho de estudo, reflexão e experimentação. Foram tomados elementos dos Cursilhos já existentes na Ação Católica, adaptando-se seu método para uma nova finalidade. A semente plantada pelo Espírito Santo florescia em algo novo que chegava a todos, e permitia que o conteúdo essencial do cristianismo fosse captado em toda a sua intensidade, inclusive por aqueles que viviam à margem da religião.

O início do Movimento

Enquanto se realizavam os primeiros Cursilhos, ia tomando forma um Movimento com uma série de elementos distintivos:

  • Um grupo de pessoas que compartilhavam uma mentalidade;
  • Uma finalidade clara que era dinamizar a vida cristã;
  • Um método eficaz para conseguir essa finalidade;
  • Um mínimo de organização e estrutura;
  • Uma mentalidade que adquiria forma e se tornava a pedra angular desse Movimento;
  • A percepção da realidade de um mundo que dava as costas a Deus;
  • Uma vida que havia deixado de ser efetivamente cristã;
  • A conclusão de que isso exigia uma nova resposta evangelizadora que renovasse o mundo a partir de dentro;<br>
  • A convicção ardente de que um mundo novo exigia homens e mulheres transformados e de que •      o mundo era lugar da salvação;
  • A crença de que o cristianismo continha a solução para a problemática do homem e do mundo;
  • A certeza de que era possível para qualquer pessoa, inclusive para os afastados, tornar vida o cristianismo e transformar-se em apóstolos que transformariam os ambientes.

A partir dessa mentalidade, estabeleceu-se uma nova forma de evangelizar:

  • Que partisse da realidade concreta das pessoas;
  • Que lhes apresentasse e possibilitasse viver o fundamental cristão;<br>
  • Que as lançasse a um apostolado nos ambientes.

E foi dessa mentalidade que surgiu o método estratégico que caracterizaria o Movimento.

Iniciado na década de 40, o MCC foi-se tornando vida na diocese de Maiorca, consolidando-se nos anos seguintes (1949-1954). Foram realizados vários Cursilhos, foram constatados seus bons resultados, comprovou-se que o Movimento realmente podia trazer uma solução universal à ação evangelizadora, pois se apresentava como uma resposta a diferentes pessoas (jovens e adultos, próximos ou distantes da religião) e a diferentes realidades sociais.

Criaram-se suas estruturas básicas, como a Escola de Responsáveis que tinha um papel determinante; foram estabelecidos caminhos de seguimento no Pós-cursilho, como as Reuniões de Grupo e as Ultreias; e criou-se o Secretariado Diocesano como estrutura de serviço específica e particular.

Registros do primeiro Cursilho em Palma de Maiorca

A expansão do movimento

De Maiorca o MCC se difundiu, a partir de 1953, por toda a Espanha, fosse por iniciativas pessoais, fosse pelas atividades do Conselho Nacional da JACE. A transferência de D. Juan Hervás para a Diocese de Ciudad Real, em 1955, e a publicação, em 1957, da carta pastoral de sua autoria – “Cursilhos de Cristandade, Instrumento de Renovação Cristã” – foram fatores determinantes para a aceitação do MCC e sua difusão nacional e internacional.

Muitos leigos e sacerdotes que participavam do MCC em diversas dioceses da Espanha, entusiasmados com seu potencial evangelizador acabavam por levá-lo aos países latinoamericanos. O primeiro país a receber o Cursilho foi a Colômbia, através da Ação Católica – lá celebrou-se não só o primeiro Cursilho fora da Espanha, mas, também, o primeiro Cursilho de Mulheres, em 1953.

Em poucos anos o movimento foi-se difundindo por toda a América do Sul e, a partir dos EUA, país onde o primeiro Cursilho se realizou em 1957, começou a difundir-se entre os países de língua inglesa.

Em toda a América o MCC se desenvolvia com muita vitalidade, mobilizava grande quantidade de pessoas e grupos, produzia inserção na pastoral diocesana e fermentação evangélica de ambientes.

A partir da Espanha o MCC chegou à Europa Ocidental onde se desenvolveu ativamente, o mesmo acontecendo na Ásia e na Oceania. Um novo impulso se deu quando, a partir da Áustria, o MCC chegou aos países do leste europeu e quando, embora de forma mais limitada, começou a atingir alguns países da África.

A criação da estruturas

À medida que se expandia em nível mundial, eram estabelecidas, também, suas estruturas básicas de serviço que eram e são as que realmente dão forma ao MCC como tal.

Como primeira e mais necessária estrutura organizada, apareceram os Secretariados Diocesanos, meio de vinculação com a Igreja Diocesana e com o Bispo.

Nasceram também, como consequência da necessidade de coordenar a unificar a vida do MCC no país, os Secretariados Nacionais, com a aprovação das Conferências Episcopais.

O primeiro deles foi criado no México, em 1961 e, a partir de 1962, foram criados os da Venezuela, Espanha, Portugal, Brasil e muitos outros.

Esse processo de expansão mundial do MCC, na década de 60, mostrou a necessidade de ligação e coordenação entre os diversos Secretariados Nacionais. Celebraram-se em diversos lugares reuniões e encontros internacionais que determinaram a necessidade dos Grupos Internacionais.

No 1º Encontro Latinoamericano, celebrado em Bogotá, Colômbia, em 1968, surgiram as bases do primeiro Grupo Internacional que seria criado no 2º Encontro Latinoamericano de 1970, em Tlaxcala, México: o GLCC – Grupo Latinoamericano de Cursilhos de Cristandade.

Em 1972, quando se realizou, na Espanha, um Encontro Mundial, criou-se o GET – Grupo Europeu de Trabalho. Diante da evidente necessidade de um Grupo de Língua Inglesa (GHI), criou-se esse grupo em 1973, constituído pelos países da América do Norte, Europa, Ásia e Oceania. Em 1983 os países da Ásia e Oceania começam a expressar a necessidade de criar seu próprio grupo e formaram o Grupo Ásia-Pacífico (APG). Quando os países de língua inglesa da Europa uniram-se ao GET, criou-se o NACG – Grupo América do Norte e Caribe.

Além dos Encontros Internacionais, foram acontecendo diversos Encontros Mundiais, considerando-se o primeiro a 1ª Ultreia Mundial, celebrada em Roma, Itália, em 1966, com a presença do papa Paulo VI; o 2º foi celebrado em Tlaxcala, México, em 1970; o 3º aconteceu em Maiorca, Espanha, em 1972; o 4º aconteceu em 1988 em Caracas, na Venezuela; o 5º foi em Seul, na Coreia, em1997; o 6º em São Paulo, Brasil, em 2005 e o 7º em Brisbane, na Austrália, em 2013.

Os Grupos Internacionais existentes em 1980 – GLCC, GET, GHI – reunidos no 5º Encontro Interamericano, em São Domingos, República Dominicana, decidiram criar o OMCC – Organismo Mundial dos Cursilhos de Cristandade, como um organismo de serviço, comunicação e informação, constituído pelos Grupos Internacionais do MCC. A partir daí, os Encontros Mundiais – 4º, 5º, 6º e 7º – foram organizados pelo OMCC.

O reconhecimento canônico do OMCC

Como uma das atividades do OMCC é representar o MCC em nível mundial, percebeu-se a necessidade de buscar seu reconhecimento canônico na Santa Sé.

Apesar de contar com a aceitação e o reconhecimento pastoral em nível mundial, na pessoa dos Papas Paulo VI e João Paulo II, o MCC não tinha reconhecimento canônico explicito. Foi, então, iniciado um processo de apresentação de seus Estatutos junto ao PCL, Pontifício Conselho para os Leigos e, finalmente, em 2004, o OMCC recebeu esse reconhecimento e a aprovação de seus estatutos.